Escola da Biologia e História ressignifica acervo sobre os povos originários
Para os indígenas da etnia Guarani, o Sol e a Lua são divindades. “O Sol é que traz tudo aquilo que a gente vê de bem, de beleza. Sem o Sol, não teria as matas. Sem o Sol, não teria os animais”, disse o cacique Pedro, da aldeia Piraqueaçu, em Aracruz. No território liderado por ele, que reúne cerca de 17 famílias, ainda se pratica a pajelança e as músicas cantadas pelos antepassados na travessia do Paraguai para o Brasil ainda são lembradas ao violão e no idioma Guarani.
A comunidade vive em um território de 285 hectares de mata preservada, habitado também pela onça pintada, já vista pelos indígenas da região, e pelo guaiamum, ambas espécies ameaçadas de extinção, além de outros animais típicos da Mata Atlântica. A visita à aldeia temática Tekoá Mirim Guarani, que fica dentro de Piraqueaçu, pela equipe técnica dos Centros de Ciência, Educação e Cultura de Vitória (CCEC) faz parte do projeto de ressignificação do acervo sobre os povos originários da Escola da Ciência, Biologia e História (ECBH).
“Partindo do que estabelece o plano de ação e a partir da formação continuada da equipe do CCEC, por ocasião dos estudos do Programa de Exposições e considerando ainda o Programa Educativo Cultural que indicou a criação de novos roteiros, o espaço Povos Originários está em reformulação a fim de adequar-se aos novos estudos da museologia social compreendendo esse espaço como primordial para divulgarmos as histórias, memórias e resistências indígenas ao longo da história do Brasil, bem como, do nosso Estado. Entender os povos indígenas de hoje é também compreender as diversas violências, o desrespeito e a desvalorização das culturas indígenas”, destacou a coordenadora da ECBH, Ticiana Pivetta.
A ida até a aldeia indígena integra o planejamento da equipe da ECBH para a ressignificação da exposição Povos Originários, pressupondo o protagonismo à comunidade indígena. A visita teve caráter de estudo e pesquisa, além de coleta de imagens e depoimentos para compor o acervo da nova exposição.
No local, a equipe teve a oportunidade de conhecer ocas características dos antigos aldeamentos dos povos Guarani, espaço comunitário para cozinhar, além de caminhar por uma trilha de mata preservada permitindo o encontro com um jequitibá amarelo de 200 anos e um jacarandá, árvore que deu nome ao bairro de Jacaraípe, na Serra, pois era muito comum na região.
“Contemplar e entender melhor o modo de vida dos povos originários é primordial para atender ao propósito histórico-científico-crítico-cultural que deve estar contido nas representações apresentadas ao público visitante da ECBH, rompendo com ideias do senso comum e estereótipos associados aos povos indígenas brasileiros, construídos ao longo da história”, afirmou a coordenadora do espaço.
Museologia social
A Escola da Ciência, Biologia e História busca com todo seu acervo oferecer práticas pedagógicas emancipatórias, que estejam conectadas com um campo de estudo denominado museologia social, que pressupõe pensar exposições assumidamente a favor da porção social historicamente alijada do processo de construção de memória, por questões de gênero e orientação sexual, questões raciais e culturais, religiosas, territoriais, econômicas, entre outras.
A exposição Povos Originários que faz parte do acervo da ECBH será apresentada a seus visitantes a partir da percepção dos povos indígenas do Espírito Santo, que propõem a estruturação de um espaço científico promotor de reflexões sobre a inserção histórica e ambiental destes no Estado, buscando romper com visões de mundo mecanicistas, reducionistas e estereotipadas.
“Os Centros e Museus de Ciência têm papel de divulgação e popularização do conhecimento científico e cultural, engajadas na transformação e melhoria das sociedades onde estão inseridas. O acervo, as experiências e exposições em exibição devem contribuir para a valorização da função social do museu no mundo contemporâneo e atuar como produtoras de sentido para os visitantes”, pontuou a coordenadora da ECBH.
Protagonismo dos povos indígenas
O estudo sobre os povos indígenas é objetivo estruturante do currículo da educação básica. Para compor o espaço dedicado aos povos originários da Escola da Biologia e História, uma série de ações já foi realizada, como:
- reunião com professor Jhonathan Pires para acesso à literatura e pesquisas da área;
- reunião com técnicos da Fundação Nacional dos Povos Indígenas no Espírito Santo (Funai-ES);
- reunião com Uli, representante do Grupo de Jovens Tupiniquim da Aldeia Irajá;
- roda de conversa com o indígena Tupiniquim Tiago Mateus, da Aldeia de Córrego do Ouro;
- presença do Grupo de Jovens Indígenas da Aldeia Tupiniquim de Irajá na ECBH com roda de conversa e apresentação cultural;
- visita à aldeia Temática Tekoá Mirim Guarani.
Outras ações também estão em curso. “Nosso objetivo principal na renovação deste espaço é que nossos visitantes entendam que, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, milhares de indígenas foram dizimados. São 523 anos de destruição de suas culturas, costumes, línguas, tradições, além da invasão de suas terras. Mas esses povos não desistiram. Pelo contrário, resistiram! Os povos indígenas de Aracruz são exemplos da luta e resistência”, destacou a professora Ticiana.
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