Mudança de clínica pela Unimed vai prejudicar terapia de 56 autistas

Mudança de clínica pela Unimed vai prejudicar terapia de 56 autistas

O terapia de Análise do Comportamento Aplicada (ABA), considerado padrão ouro para autistas (TEA), vai ficar prejudicada para 56 crianças do Espírito Santo que são atendidas pela Clínica Máximo Varejão, credenciada pela Unimed, no bairro Jardim Camburi, em Vitória.

A Unimed vai descredenciar a Máximo Varejão a partir do dia 20 de maio, o que está gerando preocupação para os pais e mães. Um deles é o servidor público Alberto Câmara, pai de um menino autista de 7 anos.

O filho de Alberto faz tratamento na Máximo Varejão há quatro anos, desde dezembro de 2019, mas foi informado, junto com outros pais, na noite do dia 11 de abril, que a Unimed descredenciará a clínica a partir do dia 20 de maio.

“A gente sabe que a clínica vinha passando por auditoria da Unimed, que foi aprovada em março. Quando a clínica nos comunicou, fomos lá na sexta (12) de manhã, pra saber o que a Unimed alegou. Eles disseram que a Unimed não alegou nada e só disse que está cancelando o contrato. Quando isso acontece é por questão de custo menor e mudança de contrato”, diz Alberto.

Ele e mais 10 ou 15 pais abriram protocolos na Unimed, mas sem sucesso. Até que a movimentação deles, com marcações em redes sociais, fez a empresa confirmar que vai mesmo descredenciar a Máximo Varejão e redirecionar os atendimentos para a clínica Protea, que fica em Santa Lúcia, em frente ao Cias.

A Protea também é credenciada pela Unimed, mas o motivo exato da mudança segue sem ser explicada aos pais. Uma das características do autismo é o apego a rotinas, inflexibilidade cognitiva e rigidez, o que gera muita dificuldade com mudanças.

“Eles tem que seguir o protocolo porque o conhecido é confortável. Às vezes, para nós, neurotípicos, é simples, mas para eles (autistas) causa muito estresse. É inerente ao transtorno. Associado a isso tem também o vínculo terapêutico, que não fazemos só quando estamos mal, mas também quando estamos bem, e é difícil mudar. Não funciona assim. O impacto disso é extremamente perigoso e pode causar involuções ou regressões, porque não sabemos os profissionais que vão atendê-los”, afirma Alberto.

A ABA é ciência de maior evidência par autistas até a adolescência, por isso tanto se fala sobre. “É um tripé: intensidade, qualidade e quantidade. Esse tripé é o que justifica dizer que a criança tem 40 horas de terapias semanais. É por aprendizado lúdico, sem perceber a razão por trás. Meu filho tem 20 horas semanais de ABA. Percebemos, pela dificuldade com sono, que ele não funciona as 7h. Adaptei pra 8h40. De segunda e terça ele sai 11h50 e nos outros dias 11h10. Já sei que ele não consegue fazer as 40 horas. Demoro de 5 a 7 minutos pra chegar e voltar. Se mudar para outra clínica, serão de 25 a 30 minutos a mais, a depender do trânsito, pra ir e voltar, pra acordar mais cedo e então terei que reduzir o tempo de terapia dele. Como eu saio, dou almoço pra estar com ele às 13h na escola? Não consigo fazer transações rápidas, às vezes fico 10 minutos na garagem o manejando pra sair. Aqui do lado gasto 5 minutos. Tem pais de Jacaraípe e até de Aracruz que rodaram e na Máximo Varejão ficaram, porque viram resultados”.

Alberto cita que, normalmente, o autismo vem acompanhado de outros transtornos, entre eles o TDAH, e cita uma frase bastante importante para pais de crianças com deficiência: tempo é cérebro.

“A primeira infância, até os 7 anos, é o melhor período para a neuroplasticidade (capacidade que o cérebro tem de aprender e se reprogramar). A segunda é a adolescência, mas a primeira é o foco”, explica.

O pai questiona para que investir milhões, criar cultura na empresa para, na primeira oportunidade, esquecer. E cita a missão (“oferecer soluções de saúde com excelência, segurança e atendimento humanizado”), visão (“ser referência no sistema cooperativista e em soluções de saúde para o mercado nacional”) e valores, entre eles a “responsabilidade social”, disponíveis pela própria Unimed no site. “Pedimos respeito e compaixão”, diz.

Abaixo assinado

Diante da situação, os pais abriram um abaixo assinado contra o descredenciamento pela Unimed, “em razão da iminência de gravíssimo prejuízo ante quebra do vínculo terapêutico que é fundamental para a evolução do tratamento da criança/paciente autista, sendo que a mudança dos profissionais que o acompanham é prejudicial à sua saúde que poderá causar involuções e regressões das mais de 52 (cinquenta e duas) crianças nas terapias atuais”, afirmam.

A meta são 2.500 assinaturas e eles já têm 1.748. “A paralisação e/ou modificação da(s) terapia(s) em clínica indicada pela própria Unimed, de acordo com eles, não pode impor de forma unilateral ao paciente autista  submissão a mudança brusca de profissionais que o atendem já que poderá ocasionar no tratamento sensíveis prejuízos ao desenvolvimento e, por conseguinte, alterações de rotina que não são facilmente aceitas pela criança dada a rigidez cognitiva/inflexibilidade típica do espectro”, dizem.

Ainda segundo os pais, “o ideal é que a criança mantenha a equipe com a qual já tem vínculo terapêutico, pois a quebra do vínculo poderá acarretar em involução no desempenho de desenvolvimento da criança nas terapias”, explicam, reforçando o que foi dito por Alberto.

O que diz a Unimed?

Por nota, a Unimed Vitória informa que o descredenciamento da instituição não afetará o atendimento dos beneficiários. Diz que a cooperativa conta com uma ampla rede de profissionais e estabelecimentos credenciados, garantindo assim o redirecionamento das demandas e a continuidade do tratamento sem qualquer interrupção ou prejuízo à saúde dos pacientes.

“A Unimed Vitória busca proporcionar o melhor cuidado a seus clientes e, por isso, investe em constantes melhorias para gerar mais conforto, acolhimento e atenção integral”, afirma.

 

Fonte: ESHOJE