Pessoas em situação de rua concluem oficinas para o trabalho

Pessoas em situação de rua concluem oficinas para o trabalho

Oportunidade, esperança, foco, sonho e realização. Palavras presentes e de grande impacto na vida dos participantes do ciclo de oficinas promovidas pelo programa Acessuas Trabalho de Vitória. A turma, formada exclusivamente por pessoas em situação de rua, que frequentam o Centro de Referência para Pessoa em Situação de Rua (Centro Pop) de Vitória, recebeu, na manhã desta quarta-feira (26), o certificado de conclusão do processo de qualificação e preparação para o mundo do trabalho.

Junto com o certificado, o grupo carregava no olhar a esperança da realização de sonhos e de encontrar oportunidades para seguir a trilha rumo ao mercado formal de trabalho com todos os direitos assegurados, como o encontrado em Nerivaldo Santos Souza, de 49 anos. Nerivaldo, antes mesmo de concluir o ciclo de oficinas conseguiu um emprego.

Em situação de rua desde os dez anos de idade, Nerivaldo revelou que encontrou na oferta de oficinas, no Centro Pop, a porta para começar a caminhar e superar a condição, além de se aproximar do sonho e, consequentemente, da realização pessoal. Focado, ele disse que não perdeu nenhuma oportunidade que apareceu pela frente. Uma delas foi se candidatar no feirão de empregos organizado pelo Sine Vitória.

“Tive uma vida muito sofrida. Desde a infância sofri maus-tratos. Acabei indo para as ruas”, contou ele. Foram anos dormindo na região do Parque Moscoso, da Cidade Alta e da rodoviária, até chegar ao Centro Pop. “Lá fui abraçado, acolhido. A ajuda dos técnicos do Centro Pop foi muito importante para chegar onde cheguei”, disse ele.

Antes mesmo de ser questionado, Nerivaldo contou que acabou de ser contratado como auxiliar de serviços gerais para atuar numa das unidades de uma faculdade particular de Vitória. “Eram quatro vagas, sendo disputadas por 25 pessoas. E eu fui o escolhido. Ler a mensagem da minha aprovação no processo me deixou muito feliz”, relatou Nerivaldo.

Nerivaldo ccontou como tudo aconteceu: “foi preciso querer. Lutar e acreditar. Ter fé. Pedir a Deus e bloquear a negatividade. Renunciar dos vícios. Procurar ajuda do Centro Pop e seguir as orientações, os aconselhamentos. Agarrar a oportunidade. Ter esperança para rescrever minha história”, falou ele.

Em seguida, Nerivaldo explicou que foram vários meses frequentando as oficinas no Centro Pop; além de voltar à escola com matrícula na turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA), na Escola da Ciência, localizada no Parque Moscoso; e a aceitação para frequentar as oficinas do Acessuas Trabalho.

“Vivia no caos. A rua é uma escola e a sociedade despreza as pessoas em situação de rua. As pessoas acham que quem vive nas ruas gosta, que é por sem-vergonhice. Cada um tem sua história. Na rua, tem pessoas com depressão, com história de perdas… que são levadas para a bebedeira e à drogadição”, afirmou ele.

Questionado se a assinatura da carteira de trabalho era a realização de um sonho, Nerivaldo teve uma resposta surpreendente. “Meu sonho é ser um violinista. Quero estudar violino. Agora, com esta oportunidade de estar dentro de uma faculdade, posso sonhar em cursar Direito para ser advogado ou juiz ou promotor. Quero ter meu próprio espaço para morar”.

Reforço

Para Rogério Oliveira Santos, 39, a oficina do Acessuas Trabalho tem sido um reforço para se manter focado no emprego que conseguiu. “As oficinas tem sido muito boas”, afirmou ele, que há dois meses está em situação de rua, após sair de casa devido aos conflitos familiares. Ele contou que à noite dorme próximo a destacamento da Polícia Militar e durante o dia agarrou a oportunidade de estar no Centro Pop.

“É muito importante participar das atividades para ajudar a gente a se organizar. Esse apoio e orientações ajudam a gente a encontrar o caminho para levantar. Eu tinha tudo e perdi. Não sabia que os conflitos familiares iam me levar para rua. Agora, eu evito passar por lugares que possam me trazer problemas. Prefiro precisar da Assistência Social”, comentou ele.

Se os participantes das oficinas acham que frequentar só impacta positivamente e ativa sonhos na vida deles, precisam ouvir o depoimento da técnica de referência do Acessuas Trabalho no território, Denise Santos, que ministrou as oficinas. “Gosto deste público. Eu recebo muito mais nas trocas dessas vivências e experiências deles. Eles são ótimos. Eles participam dentro do tempo deles. Eles são propositivos, são questionadores. Temos que estar preparados para atuar. Eles tem propriedade nas falas”, disse ela.

Após a solenidade de entrega dos certificados, Denise revelou que tem sonhos em relação aos participantes. “Meu sonho que eles tenham oportunidades reais, que tenham acesso reais ao mercado de trabalho”, disse a técnica.

Para Cintya Schulz, secretária de Assistência Social da capital, o Acessuas Trabalho é um importante programa para garantia do direito ao trabalho e uma ponte para dar a essas pessoas acesso a oportunidades ao trabalho e emprego formal. “Quando articulamos os serviços socioassistencias ao Programa Acessuas ampliamos as possibilidades de aquisições de nossos usuários. Dá para potencializar nossos serviços agregando outros que os complementam”.

Cintya ressaltou que a Secretaria de Assistência Social trabalha para que a condição de rua seja superada e o trabalho, para muitas pessoas, é essencial nesse processo.